Banza

Segundo Vansina, mbanza “ou ‘capitais’ eram as residências de principais chefes territoriais, mas também incluíam vários líderes de grupos de parentesco e seus seguidores”. Jan Vansina, “Ambaca Society and the Slave Trade c.
1760-1845”, The Journal of African History, v. 46, n. 1, 2005, p. 8.

Cubata

Em kimbundu, kubhata significa em casa. As cubatas para o governador Miguel de Melo eram “barracas feitas de palha”.

Degredo

Desde o século XV, o degredo civil passou a ser aplicado com regularidade em Portugal. Para além dos considerados pelas normas de então “desviados sociais”, identificados por Donovan como os que sofriam a pena do degredo, pois passaram a ser criminalizados – “vagabundos, homicidas, prostitutas” – os ciganos também receberam a mesma punição. DONOVAN, Bill. “Changing perceptions of social deviance: Gypsies in early modern Portugal and Brazil”. Journal of Social History, Maryland, v. 26, n. 1, p. 33–53, 1992.

Dembo

Segundo a historiadora Beatrix Heintze, para Sul do Dande até ao Bengo (ou ao Zenza) estendia-se, e estende-se ainda, o território dos Dembo (Ndembu), um povo de língua kimbundu com fortes afinidades com o Kongo, que correspondia, em grande medida, aos ‘Ambundu’ das antigas fontes. Originalmente, Ndembu não era uma designação étnica, mas sim um título dos grandes chefes locais.

Estes formavam uma zona-tampão entre o Kongo e o Ndongo, e eram em larga medida independentes, embora com uma nítida inclinação a favor do Kongo, cuja soberania reconheciam em certas alturas”.

Beatriz Heintze, Angola nos séculos XVI e XVII. Estudos sobre Fontes, Métodos e História. Luanda: Kilombelombe, 2007, p. 183.

Enseque

Ou enzeque era um “saco feito de fibra de entrecasca do embondeiro” que servia para carregar mantimentos e mercadorias. Beatrix Heintze, Fontes para a História de Angola do século XVII. Estudos sobre Fontes, Métodos e História. Luanda: Kilombelombe, 2007 p. 117.

Futa

do kimbundu mfuta, pagar. “Em kikongo nfuta é dádiva, oferta que o inferior dá a seu superior em demonstração que o reconhece por superior, a modo de um caseiro ao senhorio; presente oferecido voluntariamente a um superior em testemunho da sua dedicação”. Beatrix Heintze, Fontes para a História de Angola do século XVII. Memórias, relações e outros manuscritos da coletânea documental de Fernão Sousa (1622-1635). Stuttgart: Steiner-Verlag-Wiesbaden-Gmbh, 1985p. 426 e 437.

Indígena

o regime do indigenato foi instituído a partir de 1926 em Angola e Moçambique, contudo antes disso o termo indígena já circulava, era alvo de leis discriminatórias e era usado para rotular o não-europeu ou o não-civilizado. A partir do
Estatuto dos indígenas, a categoria indígena estava sujeita a obrigações específicas como
impostos, trabalho e serviço militar. Somente em 1961, o Estatuto dos indígenas foi revogado, a discriminação racial é um de seus legados. Maria Paula G. Meneses, “O ‘indígena’ africano e o colono ‘europeu’: a construção da diferença por processos legais”.  E-Cadernos. CES, 07, 2010, p. 68-93.

Kilamba

do kimbundu, pessoa encarregada de um mester, pl. ilamba. Para Virgílio Coelho, era um sacerdote “encarregado de aplacar a fúria dos gênios da natureza”. Virgílio Coelho, Em busca de Kàbàsà. Uma tentativa de explicação da estrutura político-administrativa do reino de Ndòngò. Luanda, Kilombelombe, 2010, p. 161. O kilamba é descrito por Cadornega como “capitão da guerra preta”. O militar também associou essa chefia a uma origem estrangeira e seu contínuo crescimento político e econômico na região às suas habilidades militares. Eram “odiados” pelos sobas porque ao se instalarem em suas terras tornavam-se espiões que tudo reportavam aos portugueses. Antonio de Oliveira Cadornega, História das Guerras Angolanas (1680). Anotado e corrigido por José Matias Delgado. Lisboa: Agência-geral do Ultramar, 1972, v. I, p. 246. Nas notícias do presídio de Ambaca encontramos algo nesse sentido, o kilamba e o kimbar, ambos como agentes da guerra preta, não possuíam terras, apenas se situavam em “parte das dos sobas”. Notícias do presídio de Ambaca, janeiro de 1798. IHGB/PADAB, DL 32.4. Heintze em seu glossário define Kilamba como “oficial africano na guerra preta que gozava de especial confiança dos portugueses”. Beatrix Heintze, Fontes para a História de Angola do século XVII, p. 126.  No Livro dos Baculamentos, os ilamba aparecem como cobradores de impostos junto aos sobas. Aida Freudenthal, Selma Pantoja (ed.). Livro dos Baculamentos: que os sobas deste Reino de Angola pagam a Sua Majestade (1630). Luanda: Ministério da Cultura e Arquivo Nacional de Angola, 2013, p. 32. Jan Vansina e Roquinaldo Ferreira identificaram essas chefias como importantes agentes do comércio de escravizados. Jan Vansina, “Ambaca Society and the Slave Trade c. 1760-1845”, p. 8; Roquinaldo Ferreira, Cross-Cultural exchange in the Atlantic World. Angola and Brazil during the Era of the Slave Trade. New York: Cambridge University Press, 2012, p. 59.

Kimbanda

ou nganga era “o supremo sacerdote do culto dos espíritos da natureza ou do principal deles”. Virgílio Coelho, Em busca de Kàbàsà, 2010, p. 161 e 162; 284-287.

Kimbari

os imbari eram africanos obrigados, “por um tratado de vassalagem do seu soba, a prestar serviço militar para os portugueses. Formando o exército auxiliar africano, a guerra preta, e estavam sob as ordens dos capitães de Massangano, Cambambe ou Ambaca”. Beatrix Heintze, Fontes para a História de Angola do século XVII, p. 126. Já o governador Miguel Antonio de Melo, em 1798, define os “imbari” como “negros livres, ou libertos, que vivem agregados a brancos”. Carta do governador Miguel Antonio de Melo para Rodrigo de Sousa Coutinho. São Paulo de Assunção de Luanda, 30 de abril de 1798. In: Arquivos de Angola, v. I, n. 6, mar. /1936, p. 325.

Kitombe ou Kitome

um grande sacerdote. Virgílio Coelho, Em busca de Kàbàsà, p. 161 e 162; 284-287.

Libata

“eram pequenos estabelecimentos, pertencentes a uma chefia e habitados apenas por parentes ou dependentes de um único líder, que muitas vezes era também a cabeça ou lemba de sua matrilinhagem”. Jan Vansina, “Ambaca Society and the Slave Trade c. 1760-1845”, p. 8.

Luanda

do kimbundu, imposto. A princípio pago ao ngola e quando da dominação portuguesa, entregue aos representantes do rei de Portugal, os governadores e capitães-mores. Aida Freudenthal, Selma Pantoja (ed.). Livro dos Baculamentos, p. 36.

Makota

plural de kota. Beatrix Heintze por meio da análise de fontes do século XVII traz a definição de kota como “o mais velho de uma linhagem, conselheiro dos sobas dos Mbundu e do rei do Ndongo”. Beatrix Heintze, Fontes para a História de Angola do século XVII, p. 120.

Ngolambole

Ngólà à Mbòle, o comandante dos guardas do ngola.

Pumbeiro

“Os portugueses de Angola chamavam pumbo (mpumbu) aos mercados do Kongo de certa importância, onde compravam mercadorias e escravizados. (…) Pombeiro designava, no tempo de Fernão de Sousa, um mercador africano no interior da terra, que adquiria ao serviço dos Portugueses, nas feiras oficiais no Sudoeste da África Central, principalmente escravizados, e também marfim, em troca de fazendas que o seu patrão português no litoral lhe entregava a crédito. Parece que os pombeiros e era, frequentemente, escravizados de confiança. É possível que então alguns já fossem mestiços. Mas também acontece que se chamava pombeiro a qualquer mercador no interior”. Beatrix Heintze, Fontes para a História de Angola do século XVII, p. 124. Na África Ocidental, os vocábulos “tangomaos” e “lançados” eram também utilizados para designar intermediários do comércio de escravizados. Segundo Zeron, a diferença em relação aos pumbeiros é que os tangomaos não teriam permissão da Coroa para comerciar no interior. Carlos Alberto Zeron, Pombeiros e tangomaos, intermediários do tráfico de escravizados na África – século XVI. São Paulo: Centro Virtual de Estudos Históricos/USP, s/d.

Quipaca

seriam “fortificações construídas de estacadas”, “estacadas de pau a pique”. E ainda: “grandes cercados de grossa e alta estacaria a formar grossas paredes, uma espécie de fortificação com que protegem as suas povoações”. Elias Alexandre da Silva Correa, História de Angola, v. I, p. 307, 318. Henrique Dias de Carvalho, O Jagado de Cassange. Província de Angola. Lisboa: Typographia de Christóvão Augusto Rodrigues, 1898, p. 98.

Sanzala

“Sanzala, ou sanza, de tamanho intermediário, continha parentes e dependentes de seu líder que era um pequeno soba ou um rico patrono (mwadi) que o português chamava de morador”. Jan Vansina, “Ambaca Society and the Slave Trade c. 1760-1845”, p. 8.

Soba

O título “Soba” (também escrito souva, ou sova, na documentação oficial) se aplica a uma autoridade local da região de Angola, que preside sobre um sobado. O sobado é uma povoação que pode ter múltiplas plantações e produções, onde as pessoas dependentes do Soba residem. O número de dependentes de um sobado é diretamente proporcional ao poder do Soba. O Soba deve ser eleito pelos makotas (anciões que tinham função de liderança nos sobados), e seu poder deve ser consolidado pela sua relação com a ancestralidade na linhagem.

O Soba tem o dever de administrar seu território e fazer a mediação com o mundo dos espíritos. Durante o período colonial, alguns Sobas aceitaram se tornar vassalos do rei de Portugal, porém mantiveram uma certa autonomia para a administração do sobado. A maioria, porém, foi obrigada à vassalagem pela força das armas lusas. Os Sobas também tiveram um papel no tráfico de escravizados, pois podiam conceder e ajudar os portugueses a obtê-los. No entanto, os Sobas nem sempre trabalhavam em conjunto com os portugueses, se rebelaram contra o poder colonial, recusavam-se a colaborar com os planos do governo em Luanda e abrigaram escravizados em fuga.

Tandala

o tándàla seria a terceira autoridade mais importante, depois do ngola e do ngólàmbòle (Ngólà à Mbòle), o comandante dos guardas.  O tandala era o “comandante da retaguarda”, em tempo de paz era altamente venerado, “durante a guerra os seus poderes são grandemente acrescidos”. Também é atribuído ao tandala a liderança dos sobas. Virgílio Coelho, Em busca de Kàbàsà, p. 284-287. Cadornega agrega mais uma função ao tandala: “é o intérprete e era cousa de muita autoridade ver um homem destes a quem o gentio tinha por ídolo ajoelhado aos pés do governador em sala do Dossel, quando vinha algum soba estar com ele desta sorte servindo de intérprete”. Antonio de Oliveira Cadornega, História das Guerras Angolanas (1680), v. I, p. 185.

Vestir

uma maneira de impor troca forçada, introduzida pelos portugueses para pedir peças aos sobas. Aida Freudenthal, Selma Pantoja (ed.). Livro dos Baculamentos: que os sobas deste Reino de Angola pagam a Sua Majestade (1630). Luanda: Ministério da Cultura e Arquivo Nacional de Angola, 2013, p. 44.